Este não é um guia no sentido tradicional. Não vai encontrar aqui recomendações de carreira, tabelas de indústrias do futuro ou dicas sobre a candidatura perfeita a um emprego. Em vez disso, trata-se de algo mais profundo: atitude, orientação e capacidade de ver claramente - numa altura em que muitas coisas já não são sustentáveis.
Há alturas na vida em que sentimos por dentro que as coisas não podem ficar como estavam. Não porque estejamos subitamente insatisfeitos. Mas porque nos apercebemos de que o mundo à nossa volta está a mudar - e não para melhor. Atualmente, muitas pessoas sentem esta dor silenciosa. Um puxão no fundo que não desaparece. A sensação de que aquilo que nos foi vendido durante décadas como "segurança" tem cada vez menos a ver com a realidade.
Ignorei esta dor durante muito tempo. Demasiado tempo. Como muitas pessoas, eu estava demasiado confortável, demasiado ocupado, demasiado funcional. Mas, a dada altura, algo mudou. E comecei a olhar mais de perto. Não para me queixar - mas para ser honesto. Este artigo é o resultado dessa honestidade.
Um olhar sobre outro país
Quando recordo a minha infância e juventude - os anos 80, o início dos anos 90 - lembro-me de uma Alemanha diferente. Não melhor, não mais romântica, mas: mais real. Mais sólida. Mais lenta. Mais orientada para a substância.
Naquela altura, havia uma cabine telefónica em cada aldeia. E não pertencia a uma empresa anónima de telemóveis - mas sim aos Correios Federais Alemães. Os correios eram propriedade do Estado. Os caminhos-de-ferro eram propriedade do Estado. O fundo de pensões era sólido. A água era fornecida pelos serviços municipais. As infra-estruturas nem sempre eram modernas, mas eram nossas. E funcionava. Era um país em que a propriedade ainda estava associada à responsabilidade - não à especulação.
Menos escolha - mas mais fiabilidade
Havia três programas de televisão. E quando se abria uma conta, não era com uma aplicação qualquer, mas com a caixa económica local - com o consultor que se conhecia. O que faltava era rapidez. O que havia era estrutura.
Claro que nem tudo foi bom. Havia burocracia, havia lentidão, havia oportunidades perdidas. Mas havia também algo que quase ninguém reconhece hoje em dia: uma sensação de estabilidade. Tinha-se a impressão de que, se se trabalhasse hoje, o resultado seria amanhã. Não de um dia para o outro. Mas a longo prazo. O mundo era previsível. E isso não era um insulto, mas uma promessa.
A profissão significava pertencer
Quando alguém dizia: "Sou padeiro" ou "Trabalho nos correios", não significava apenas: "Tenho um emprego", mas sim: "Faço parte de uma ordem funcional".
O trabalho era mais do que um rendimento. Era uma identidade. Não era preciso reinventar-se todos os dias. O professor continuava a ser professor. O carpinteiro continuava a ser carpinteiro. E isso não era um sinal de regressão - mas de fiabilidade.
Privatizações: a grande reviravolta que ninguém percebeu
Depois veio a reviravolta - não só a nível político, mas também económico. Gradualmente, todas as instituições que tinham sido a espinha dorsal do país durante décadas foram privatizadas, parcialmente vendidas e reduzidas em termos de eficiência.
- Os Correios Suíços tornaram-se uma máquina logística da DHL.
- O caminho de ferro tornou-se uma máquina de rendimento.
- As redes foram fragmentadas, vendidas e optimizadas.
- Telecomunicações, energia, transportes - tudo se tornou comercializável.
E assim começou uma mudança gradual: o que antes era de todos nós passou a ser dos "mercados". E o que era um serviço passou a ser um "produto". Aqueles que prometiam a oferta, agora prometem o lucro - ou ficam em silêncio.
O que resta hoje - e o que ainda está a cair
Hoje, quase nada resta do que se chamava "sector público". A única coisa que ainda não foi completamente privatizada é a água - mas mesmo aí, as discussões já estão em curso há muito tempo. E o sentimento que fica? Não é de raiva. Nem sequer medo. Mas uma alienação silenciosa. O país já não se sente em casa - mas sim como uma morada temporária.
Não estou a escrever isto para querer voltar atrás. Os velhos tempos não vão voltar - e nem tudo era melhor. Mas se quisermos compreender hoje porque é que tantas pessoas se sentem perdidas, temos de compreender esta mudança. Não é a tecnologia que nos faz sentir inseguros. Não é o progresso.
É a falta de fiabilidade, de pertença, de ordem real. E quando os jovens de hoje perguntam: "Em que é que me devo tornar?" - é frequentemente uma outra expressão para:
"A que é que eu ainda pertenço?"

O sistema atual - e porque é que já não funciona
A Alemanha foi outrora conhecida pela sua boa administração, pela sua política financeira sensata e pela sua combinação equilibrada de economia de mercado e segurança social. A República Federal da Alemanha no período pós-guerra - especialmente nos anos 50 até ao início dos anos 70 - era sinónimo de estabilidade através da substância. As pessoas viviam com o que tinham. O Estado não era um parque de diversões, mas um administrador calmo com sentido das proporções.
Mas, a dada altura, algo começou a mudar. Não com um estrondo - mas calmamente, gradualmente, ao longo de décadas.
As primeiras fissuras: Os políticos descobrem a dívida
O período de Willy Brandt no governo foi um ponto de viragem. Pela primeira vez, a ideia de que o progresso social também podia ser financiado a crédito tornou-se aceitável - em nome da "perequação social". Foi, sem dúvida, bem intencionado. Mas abriu uma porta que nunca mais se fechou.
Sob a direção de Helmut Schmidt, o endividamento cauteloso transformou-se então num défice orçamental estrutural que crescia ano após ano. A partir daí, a política de endividamento tornou-se parte integrante do sistema - não como uma solução de emergência, mas como uma prática permanente.
A rutura com a disciplina orçamental
Nos anos 80 e 90, alguns governos tentaram tomar medidas de combate. Helmut Kohl falou de uma "viragem espiritual e moral" e de um "orçamento sem novas dívidas".
Mas isto não passou de conversa fiada - as dívidas continuaram a aumentar, impulsionadas pela reunificação, pelos programas sociais e pela crescente burocracia. Com a transição para o governo vermelho-verde na viragem do milénio, o obstáculo psicológico caiu finalmente: a dívida tornou-se a norma.
Um marco na perda de controlo: o euro
Com a introdução do euro, a Alemanha perdeu uma alavanca decisiva: a sua própria soberania monetária. O marco alemão - outrora símbolo de estabilidade - foi substituído por uma moeda comum cujas regras eram instáveis desde o início. Os "critérios de Maastricht" (rácio da dívida, limite do défice) foram regularmente quebrados. O BCE tornou-se um ator político e não um guardião independente da moeda. Os países que nunca tinham gerido bem as suas finanças foram apoiados através da responsabilidade solidária. E a Alemanha? Pagou - e manteve-se em silêncio.
Em nome da "solidariedade europeia", aceitou-se o que antes seria descrito como suicídio orçamental.
O BCE: dinheiro do nada
O mais tardar com a crise financeira de 2008, iniciou-se um novo capítulo: o Banco Central Europeu descobriu a "flexibilização quantitativa" - a compra sistemática de obrigações do Estado com dinheiro acabado de criar.
- A imprensa tornou-se uma solução permanente.
- As taxas de juro caíram para zero.
- A dívida perdeu o seu preço.
- Os investimentos foram alimentados artificialmente.
E o mercado foi dissociado de qualquer sinal de risco real através de intervenções maciças. O que era suposto ser uma medida de crise tornou-se um apoio permanente a um sistema que já não se pode sustentar por si próprio.
Escondido nas profundezas: o desastre chamado Target-2
Outro ponto que quase ninguém conhece - e muito menos compreende - é a Sistema Target 2. Um mecanismo de liquidação de pagamentos na zona euro que, inicialmente, se destinava a ser uma ajuda técnica. No entanto, transformou-se numa armadilha invisível da dívida:
A Alemanha tem uma dívida de mais de 1000 mil milhões de euros - créditos sobre outros Estados da UE para os quais não existem garantias. E o melhor de tudo? Este montante não está registado em nenhum orçamento. Nenhum cidadão, nenhum parlamento, nenhuma imprensa fala disso - mas existe. É o preço invisível do resgate do euro - pago por aqueles que trabalham mas nunca lhes foi pedido.
E agora? Um Estado no limite - com uma cara amiga
Atualmente, a Alemanha é como uma casa que finge estar em ordem, mas que já não consegue pagar as contas.
- Os sistemas sociais estão no limite.
- A pensão só pode ser financiada por subsídios federais.
- As pensões dos funcionários públicos estão a explodir.
- As infra-estruturas estão a desmoronar-se porque tudo é "conduzido à vista".
- A Bundeswehr é incapaz de atuar.
- A administração está sobrecarregada, a digitalização está a falhar por si só.
- Ao mesmo tempo, os impostos estão a aumentar, as taxas estão a aumentar e as expectativas estão a aumentar.
E porquê? Porque as pessoas já não se atrevem a ser honestas. O que ainda se vende como segurança não passa muitas vezes de uma promessa. Atualmente, a segurança continua a ser escrita em letras maiúsculas:
- Oficialidade
- Pensão
- Seguro de saúde
- Licença parental
- Subsídio de alojamento
- Programas de apoio
Mas muitos destes títulos não passam de uma fachada. Prometem-se benefícios para os quais já não há cobertura - na esperança de que isso não seja notado enquanto um número suficiente de pessoas entrar no jogo. Mas o sistema só funciona enquanto houver um número suficiente de pessoas que contribuam com algo que outros retiram imediatamente. Se os contribuintes abandonarem o sistema - seja por mudança de residência, esgotamento ou demissão interna - o castelo de cartas desmorona-se.
Não se trata de entrar em pânico. Trata-se de compreender porque é que tantas pessoas se perguntam hoje: o que é que me mantém aqui? E, acima de tudo: como posso viver num sistema que exige tudo de mim - mas que me dá cada vez menos? Qualquer pessoa que escolha hoje a sua profissão - ou o seu caminho - precisa de saber isto. Não para recusar. Mas para ver com mais clareza. Porque o que ainda hoje funciona como um sistema é muitas vezes apenas rotina - alimentada pela inércia, mas já não pela substância.

Escolha de carreira em tempos de incerteza
Houve uma altura em que a escolha de uma carreira era uma transição clara. Da escola para a formação. Da universidade para um emprego. E quando se estava "dentro", ficava. Não por medo - mas porque funcionava.
Um emprego era mais do que apenas trabalho: era previsibilidade, pertença, identidade. Na caixa económica, nos caminhos-de-ferro, numa empresa artesanal ou no sector público, sabia-se onde se estava. E mesmo que se estivesse insatisfeito, podia-se contar com uma certa segurança: Se nos esforçássemos, éramos necessários. Os que ficavam eram bem tratados.
Esse tempo já não existe.
Uma vida inteira no mesmo emprego? Dificilmente realista hoje em dia
Atualmente, a ideia clássica de uma "carreira para toda a vida" é uma coisa do passado. Não porque as pessoas sejam demasiado voláteis - mas porque o mundo à sua volta está a mudar demasiado depressa.
- Conteúdo da formação estão frequentemente desactualizados quando são concluídos.
- Estudo não conduz automaticamente a um início de carreira.
- Ferramentas digitais e a IA estão a mudar os empregos em tempo real.
- Todos os domínios profissionais desaparecem, surgem novos sem nome.
E considerando que no passado: "O que aprenderes, terás para sempre"é ainda mais verdadeiro atualmente:
"O que se aprende hoje será substituído por uma atualização amanhã."
Quando a incerteza é a única constante
O problema não é a mudança em si, mas a falta de orientação. Porque num mundo em constante mudança, a questão não é apenas: "O que é que eu posso fazer?"
Mas também: "Qual destas opções continuará a ser necessária amanhã?"
E é esse o verdadeiro cerne da atual crise de escolha de carreira: os jovens não são apenas confrontados com uma escolha - mas com a desintegração de todo o quadro em que a escolha fazia sentido em primeiro lugar.
O que significa um emprego ainda hoje - e o que já não significa
Atualmente, uma profissão já não é uma garantia de segurança. É uma ferramenta. Um ponto de apoio. Um ponto de entrada. Mas quem acredita que só um emprego pode durar uma vida inteira pode ficar desiludido.
Porque as velhas promessas já não se aplicam:
- "Faz uma aprendizagem e estarás seguro."
- "Estuda algo de jeito, e depois ficas bem."
- "Procure uma empresa com um acordo coletivo - será bem tratado."
Este conselho vem de uma época em que os sistemas ainda funcionavam - e não da realidade atual.
Trabalho independente: do risco à alternativa
O trabalho por conta própria costumava ser considerado imprudente. Algo para os particularmente corajosos - ou para aventureiros. Atualmente, é muitas vezes a única forma de alcançar a verdadeira autodeterminação. É claro que é preciso coragem, responsabilidade e vontade de aprender. Mas se quisermos realmente viver livremente hoje - tanto em pensamento como em ação - não podemos continuar a confiar cegamente no sistema.
Hoje em dia, o trabalho por conta própria não é o oposto da segurança, mas muitas vezes a única forma de alcançar a segurança que se cria para si próprio.
Quando os jovens vêem que tudo depende do crédito
Atualmente, muitos jovens sentem intuitivamente que o sistema promete mais do que pode cumprir. Ouvem os termos: "escassez de competências", "mercado de oportunidades", "equilíbrio entre vida profissional e pessoal". Mas, ao mesmo tempo, vêem:
- aumento dos preços,
- professores sobrecarregados,
- pais esgotados,
- estradas fechadas,
- e políticos que falam de transformação, mas dificilmente comunicam para onde.
Neste clima, dificilmente é possível tomar uma decisão para a vida com confiança. E, no entanto, é exatamente isso que se espera deles.
O que é necessário em vez disso: Dois pilares
A resposta a esta incerteza não é uma nova profissão, mas uma nova forma de encarar o trabalho. Atualmente, quem é inteligente pensa a dois níveis:
- Um pilar do rendimento: Algo que seja atualmente necessário, que possa fazer e com que possa começar. Não tem de ser perfeito - apenas sustentável.
- Um pilar para o futuro: Algo próprio. Algo que pode crescer. Uma capacidade. Um projeto. Uma ideia. Algo de que não vai precisar amanhã - mas depois de amanhã.
A combinação de ambos não é uma decisão de luxo - mas uma necessidade.
A profissão como uma atitude, não como um título
Talvez esta seja a frase mais importante deste capítulo: hoje em dia, o nosso trabalho já não é o que somos. É o que se faz para progredir. Identificar-se com um título profissional fixo - "Sou professor, sou advogado, sou informático" - conduz frequentemente a um beco sem saída em tempos como os actuais. O que conta hoje é outra coisa:
- Capacidade de aprendizagem
- Vontade de adaptação
- Clareza de pensamento
- Auto-controlo
- Sentido de responsabilidade
Estas qualidades não substituem a profissão, mas tornam-no independente do título. Se hoje se vê confrontado com uma escolha profissional, não procure o caminho perfeito. Não o vai encontrar. Em vez disso, procure-o:
- um caminho que Ar para respirar folhas,
- Pessoas que honesto são,
- Tarefas que Não dobrar,
- e um ponto em si onde sabe: "Não estou apenas adaptado aqui - estou vivo".
Porque o mundo não precisa de mais pessoas com um currículo. Precisa de pessoas com atitude - e com uma bússola interior.
Podcast: Homem ou máquina - Quem vai trabalhar no futuro? | Lanz & Precht
Quando as visões do mundo colidem
Numa sociedade estável, as pessoas podem discordar sem causar uma fratura insuperável. As pessoas discutem, discordam, chegam a um acordo - ou não.
Mas hoje estamos a viver algo diferente. Já não são as opiniões que estão a entrar em conflito, mas sim visões do mundo inteiras. E as visões do mundo não são apenas opiniões. São elas que dão estabilidade, segurança e identidade às pessoas. Quando começam a vacilar, toda a autoimagem vacila. É por isso que as pessoas já não reagem com argumentos - mas com defesa, retração, por vezes até com ódio.
Quando as diferenças de opinião se transformam em crises de relacionamento
Esta fratura é profunda - muitas vezes mais profunda do que se possa pensar à partida. Os casais já não discutem sobre questões do quotidiano - mas sobre o que ainda é "normal". As amizades desfazem-se porque as pessoas utilizam outras fontes de informação. Os pais já não compreendem os seus filhos - ou vice-versa. Os colegas já não falam uns com os outros, mas evitam-se.
E quanto mais se aprofunda esta fratura, menos se trata de conteúdo - e cada vez mais de filiação, lealdade e soberania de interpretação. O outro já não é visto como um parceiro de diálogo, mas como um representante do lado errado.
O nível mais íntimo: quando a política se infiltra na vida privada
O que costumava ser um assunto privado - como se vive, ama, pensa e fala - tornou-se agora parte de um grande debate.
- Que carro conduz,
- as palavras que usa,
- os pensamentos que expressas,
- a profissão que escolher,
- se tem filhos, se come carne, se é vacinado -
Hoje em dia, tudo é lido politicamente. E isso cria uma pressão subtil - não só a partir do exterior, mas também nas relações, amizades e famílias. Hoje em dia, o que pensamos pode determinar se ainda pertencemos a um determinado lugar.
Antigamente, isso era impensável - hoje faz parte do quotidiano.
As ideologias como aceleradores de fogo
A divisão talvez ainda pudesse ser ultrapassada se fosse alimentada apenas pela incerteza. Mas é alimentada - e de forma deliberada. Nem sempre com intenções maliciosas. Mas com um sistema. Porque as ideologias - independentemente da sua orientação - prosperam ao traçar linhas claras entre amigo e inimigo.
Oferecem respostas simples, culpados claros e a promessa de estar do "lado certo". Quem não se juntar a eles já não é questionado - mas rotulado. Como "de direita", "não apoiante", "tóxico", "não científico" - dependendo do campo. E isso torna o diálogo real quase impossível. Porque quem tem medo de estar errado nunca fala honestamente.
O que fazer? A capacidade de ter uma perspetiva
No meio desta dinâmica, só há uma forma real de nos mantermos lúcidos por dentro - e não nos afundarmos com ela: É preciso aprender a sentir empatia pelos outros - sem desistir de si próprio. Isto significa
- Ouvirsem fazer um julgamento imediato.
- Compreensão sem concordar.
- Reconhecerque a outra pessoa também pode ter boas razões para a sua atitude - mesmo que não as partilhe.
Esta capacidade tornou-se rara atualmente - mas vale o seu peso em ouro. Porque não protege apenas as relações - também protege o seu próprio pensamento da rigidez ideológica.
A sua própria opinião - sem dogmatismo
Não se trata de se conformar. Trata-se de permanecer interiormente livre, mesmo quando as opiniões estão a ser expressas à nossa volta. Ter a sua própria atitude não é um dogma, mas uma bússola interior. Se soubermos porque é que pensamos o que pensamos, podemos manter a calma - mesmo quando a tempestade está a assolar-nos. E não se tornam naquilo que criticam nos outros:
Uma pessoa que consiste apenas numa demarcação.
A mentira mais confortável é aquela que sabe bem
Se vivermos tempo suficiente num sistema que nos promete segurança, a dada altura começamos a acreditar que a promessa é a realidade. Acomodamo-nos. Aceitamos a situação. Funciona. E desde que tudo corra razoavelmente bem - o salário chega, a renda é paga, a vida quotidiana tem a sua rotina - não fazemos mais perguntas. E porquê? Não há dor que doa. Mas é precisamente isso que é perigoso.
Porque quando deixamos de nos perguntar se o que estamos a viver ainda é coerente, começa uma lenta alienação interior. Não de uma só vez, mas gradualmente. E, muitas vezes, só nos apercebemos disso quando olhamos para trás, para a nossa própria vida, e nos apercebemos de que andamos há anos a fazer coisas que nunca questionámos. Não por convicção, mas por inércia. E por medo de perder algo de que talvez já não precisemos.
O conforto não é um refúgio de paz - é o precursor da estagnação
Na sociedade atual, a comodidade é frequentemente confundida com a qualidade de vida. Temos calor, temos um carro, temos um serviço de streaming, podemos mandar entregar comida. Já não tem de lidar com perguntas desagradáveis. E se houver um problema algures, há uma aplicação, uma linha direta ou um regulamento. Tudo parece estar resolvido.
Mas isso não é liberdade - é uma simulação de liberdade. Porque assim que tentamos sair desta zona de conforto, rapidamente nos apercebemos de como a grelha se tornou estreita. Não foi concebida para seguirmos o nosso próprio caminho. Foi concebida para o manter onde está. E se nos habituarmos a não questionar mais as coisas, acabamos por perder o músculo interior que é suposto manter-nos em movimento. O conforto não é o objetivo da vida. É um estado que pode ser desfrutado temporariamente - mas nunca deve ser confundido com o verdadeiro sentido da vida. Porque este começa sempre quando nos atrevemos a fazer alguma coisa. E quando se está preparado para enfrentar a verdade - mesmo que seja desconfortável.
O primeiro passo não é externo, mas interno
Muitas pessoas acreditam que a liberdade significa mudanças no exterior. Um novo emprego. Uma nova cidade. Um país diferente. E sim - isso pode fazer parte do processo. Mas o verdadeiro começo está noutro lugar completamente diferente. Encontra-se num momento calmo em que se deixa de mentir a si próprio. Quando dizemos pela primeira vez: a forma como estou a viver já não me parece correta.
Não porque alguém o diz. Não porque nos comparamos. Mas porque algo se agita dentro de si - e diz: algo está errado. Este momento não é uma bomba. É mais uma inquietação suave que cresce lentamente. E se tiver a coragem de dar espaço a este sentimento, já está no limiar da liberdade. Porque a verdadeira mudança nunca começa com um compromisso ou uma decisão. Começa com honestidade - e com a vontade de tirar consequências dessa honestidade.
A liberdade não é o oposto da obrigação, mas da traição a si próprio
Muitas pessoas pensam que a liberdade significa não ter mais obrigações. Não ter de responder a ninguém. Sem prazos, sem tarefas, sem expectativas. Mas isso é um mal-entendido. A liberdade não significa que já ninguém quer nada de mim. Liberdade significa que já não sou obrigado a fazer coisas que não apoio.
Posso assumir um compromisso - mas voluntariamente. Posso assumir a responsabilidade - mas de forma consciente. Posso dizer sim - porque posso dizer não. E a verdadeira traição não começa quando assumimos tarefas, mas quando as assumimos apesar de sentirmos há muito tempo que não são boas para nós. A traição começa quando se vai contra os próprios sentimentos simplesmente porque se espera isso de si. E essa traição leva ao cansaço, ao vazio, à doença e à resignação. Se quisermos viver livremente, não temos de nos afastar de tudo. Mas têm de recomeçar a levar-se a sério.
A grande libertação não é uma explosão - mas uma decisão
Muitas pessoas imaginam a libertação da sua vida antiga como um novo começo: demitir-se, emigrar, deitar tudo fora, começar de novo. E sim, por vezes é exatamente isso que é preciso. Mas, muitas vezes, a liberdade começa de forma muito mais silenciosa. Com a decisão de deixar de alinhar. Não por desafio, mas por tomada de consciência. Não se vai contra o sistema, mas fora do sistema.
Já não se luta pelo que está certo - abandona-se o palco quando a peça já não significa nada para si. E isso requer coragem. Porque quando se sai do palco, a aprovação também acaba. Os aplausos calam-se. Talvez surjam dúvidas. Talvez surjam noites solitárias. Mas também vem outra coisa: a calma. A clareza. Responsabilidade. E quando sentir isso, não vai mais querer trocá-lo por aplausos baratos.
O preço da liberdade é a honestidade - e vale cada cêntimo
A liberdade não é uma prenda que alguém nos dá. Nem é um estado que simplesmente se tem. A liberdade é algo que tem de ser conquistado vezes sem conta, através de decisões, atitudes e trabalho interior. E tem um preço. Por vezes é a insegurança. Por vezes, é a rutura com relações antigas. Às vezes é um corte financeiro.
Mas tudo isso pesa pouco contra a sensação de estar finalmente de volta a si próprio. Aqueles que vivem honestamente nem sempre vivem confortavelmente. Mas vivem em harmonia consigo próprios. E isso vale mais do que qualquer pensão, qualquer promessa de emprego, qualquer reconhecimento social. A liberdade não começa com dinheiro. Começa com uma frase: "Não vou continuar a mentir a mim próprio".
Quando as certezas se desmoronam, torna-se claro o que realmente importa
Há momentos na vida - e talvez também na história - em que nos apercebemos de que o mundo, tal como o conhecíamos, já não é estável. As regras estão a mudar. As certezas estão a desaparecer. E as certezas em que nos baseámos deixam subitamente de ser evidentes. O que ontem era normal está agora sujeito a mudanças. O que ontem era considerado estável, hoje parece frágil. E ficamos ali, olhamos à nossa volta, ouvimos as notícias, sentimos as mudanças - e sentimos que algo já não está bem. Mas é precisamente em momentos como este que nos apercebemos do que realmente nos mantém unidos. Não é o sistema. Não é o seguro. Não é a etiqueta no currículo. Mas sim o que construímos dentro de nós próprios.
Resiliência não é resistência - é a capacidade de mudar. Em tempos de incerteza, não são os mais fortes que sobrevivem. Nem os mais barulhentos. São aqueles que se conseguem adaptar sem se perderem. Aqueles que estão preparados para mudar o seu pensamento, mudar as suas ferramentas, alargar as suas perspectivas - mas não a sua atitude. A isto chama-se resiliência. Não se trata de uma técnica. Nem é uma questão de genes. É uma vontade interior de se manter de pé, mesmo quando o vento muda. As pessoas resilientes não se queixam. Reconhecem o que é - e tomam medidas. Não por pânico, mas por antecipação. Não ficam à espera que alguém lhes permita viver. Começam - silenciosamente, mas com determinação.
Um ponto de apoio para agora - um ponto de apoio para depois
Quem é inteligente hoje em dia pensa duas vezes. Não se pergunta apenas: "O que é que eu preciso para sobreviver hoje?
Mas também: o que é que eu preciso amanhã para ser independente? É por isso que faz sentido ter dois pilares - mesmo que as pessoas costumem ridicularizar isto. Um que seja sustentável a curto prazo - uma profissão, um serviço, um emprego que funcione. E um que possa crescer a longo prazo - algo próprio, uma ideia, um pequeno começo que pode parecer discreto hoje, mas que pode ser a base amanhã, quando a oficialidade vacilar. Pode ser um projeto. Uma habilidade. Um produto digital. Uma rede. Ou simplesmente um pensamento claro que já não se dobra. Ninguém pode prever hoje como serão os próximos dez anos. Mas aqueles que hoje confiam demasiado no que funcionou ontem, podem ser enterrados amanhã.

A liberdade não vem da fuga - mas da clareza
Não se trata de se retirar, de se isolar ou de desconfiar de tudo. A liberdade não surge através da negação - mas através da consciencialização. Se passarmos por estes tempos com os olhos bem abertos, rapidamente nos apercebemos de que muitas pessoas continuam a jogar, mas cada vez mais abandonaram o jogo internamente. Não se resignam - mas desinteressam-se. Fazem o seu trabalho, pagam as suas contribuições, cumprem os seus deveres. Mas já não esperam nada. Sabem-no: Se quero viver livremente, tenho de ser eu a tratar de tudo.
Esta constatação é sóbria - mas também libertadora. Porque põe fim à ilusão. E com a ilusão, a impotência também desaparece. O que resta é espaço de manobra. Talvez menos do que gostaríamos. Mas real. E honesto.
Se estás à espera que alguém te salve, já perdeste
O sistema não o vai salvar. Nem o Estado. Nem a sua companhia de seguros. Nem o seu partido. Nem a marca do seu empregador. E o próximo governo também não. Não por maldade. Mas porque já não há ninguém que tenha uma visão geral. O que funciona, funciona em pequena escala. A nível local. Interpessoal. Tangível. Se quisermos sobreviver hoje - mentalmente, economicamente, emocionalmente - temos de dizer adeus à expetativa de que um plano mestre irá aparecer. Não existe um. Só existe você. E o que fazes com o que está à tua disposição. Esta não é uma ideia romantizada de liberdade.
Esta é simplesmente a realidade. E não é necessariamente bonita. Mas é verdade.
Manter-se acordado não significa entrar em pânico - significa manter-se vivo
Este artigo não é um apelo a um novo começo. Nem é um adeus a tudo o que é antigo. É um convite para acordar - se é que ainda não acordou. E se já acordou, então já sabe: O mais importante não é que tudo volte a ser como era. É que não adormeça quando os outros se acalmarem novamente.
- Manter o Olhos aberto. Não com medo, mas com atenção.
- Manter o Orelhas aberto. Não para acreditar em tudo - mas para decidir por si próprio o que faz sentido.
- Manter o Ver aberto. Não apenas para a frente, mas também para dentro. Porque, por vezes, o sítio mais importante para nos orientarmos não é o exterior, mas o nosso interior.
Não te deixes amarrar, mas também não te deixes levar. Não te deixes intimidar, mas também não te deixes agitar. Não te deixes enganar, mas também não te deixes seduzir. Mantenha-se acordado. Fica quieto quando as coisas se tornam barulhentas. E alto quando é preciso.
E acima de tudo:
Viver de tal forma que, ao fim do dia, ainda se possa olhar ao espelho. Porque no final - quando os sistemas caem, as profissões desaparecem, as certezas se desmoronam - só há uma coisa que realmente nos mantém de pé:
A sua clareza. A tua liberdade. O teu caminho.
Perguntas mais frequentes
- Porquê este artigo - e porquê agora?
Porque algo está a mudar. Não de forma ruidosa, não oficialmente, mas de forma visível. Cada vez mais pessoas sentem que o nosso sistema está a começar a vacilar - não de repente, mas gradualmente. Este artigo não tem como objetivo dar respostas, mas sim orientações. Não é para espalhar o pânico, mas para criar clareza. E agora é exatamente o momento certo para o fazer: antes que a próxima vaga diminua - ou rebente. - O que é que se entende realmente por "permitir a dor"?
Não se trata de dor física. O que está em causa é o momento em que deixamos de reprimir o facto de sentirmos que muitas coisas estão erradas. O momento em que nos apercebemos de que nos instalámos num sistema que já não nos serve. E que a segurança vem à custa da sua própria liberdade. Admitir esta dor é desconfortável - mas também curativo. - Isso é uma crítica ao Estado?
Não diretamente. O artigo não é uma acusação. Não tem a ver com políticos ou partidos. É sobre as estruturas em que todos vivemos - e as dinâmicas que delas resultam. Quando a confiança diminui, quando a responsabilidade se desloca, quando os números são mais importantes do que as pessoas, então é altura de olhar mais de perto. Não se trata de crítica - trata-se de uma atenção saudável. - O que é que é diferente hoje do que era no passado - digamos, nos anos 80 ou 90?
Nessa altura, havia substância. As instituições eram inertes, mas fiáveis. O contrato intergeracional era mais do que um conceito. Os correios eram os correios. E a política ainda tinha um sentido de orientação. Atualmente, muitos sentem uma desconexão entre a realidade e a retórica. As decisões parecem ser tomadas por impulso, a curto prazo, muitas vezes ideológicas. O ritmo aumentou, o empenhamento diminuiu. E é precisamente isso que gera inquietação. - Porque é que é tão difícil escolher uma carreira hoje em dia?
Porque os perfis profissionais tradicionais estão a sofrer uma erosão - devido à automatização, à IA e à globalização. Porque a ideologia e a regulamentação estão a colocar indústrias inteiras sob pressão. E porque os jovens de hoje estão a aperceber-se de que o "caminho seguro" muitas vezes já não é seguro de todo. Nesta situação mista, é preciso mais do que boas notas - é preciso firmeza, flexibilidade e uma imagem clara de si próprio. - O que são as "pessoas do sistema", tal como mencionadas no artigo?
As pessoas sistemáticas não são inimigas. São pessoas que dependem fortemente de estruturas externas - de regras, carreiras, modelos. Definem a segurança através da pertença. Isso é compreensível. Mas em tempos de mudança, isso pode ser perigoso, porque aqueles que dependem demasiado do exterior rapidamente perdem o seu pé quando esse exterior se desmorona. - Porque é que o tema da ideologia se tornou tão central?
Porque a ideologia já não está à margem, mas reina no centro. Substitui o debate pelo compromisso. Transforma a opinião em moral. E penetra - por vezes inconscientemente - profundamente na educação, nos meios de comunicação social, na administração e na vida quotidiana. Aqueles que lhe resistem já não são discutidos, mas sim eliminados. Isto cria pressão - e divisão. - Como é que podemos orientar os jovens sem os sobrecarregar?
Falando com eles honestamente. Sem slogans, sem apelos. Mas fazendo perguntas. Alargando a sua visão. E dando-lhes espaço para desenvolverem os seus próprios pensamentos. Não é fácil para os jovens de hoje. Mas eles também têm oportunidades - se não lhes impusermos uma velha visão do mundo que já está a ruir. - O que é que o texto quer dizer com "dois pilares"?
Uma que seja sustentável a curto prazo - ou seja, um emprego, uma missão, um trabalho seguro. E um que possa crescer a longo prazo - por exemplo, uma ideia, um projeto digital, o seu próprio produto. Se hoje só contar com um deles, muitas vezes ficará sem nada amanhã. Dois pilares significam: Provisão através da diversidade. - Porque é que a resiliência é hoje mais importante do que os conhecimentos ou as qualificações?
Porque o conhecimento está em constante mudança. E porque as qualificações são frequentemente desvalorizadas - pela tecnologia, pela burocracia, pela distorção do mercado. Mas aqueles que aprenderam a lidar com a mudança, a reorientarem-se, a manterem-se fiéis a si próprios, também sobreviverão amanhã. A resiliência não é uma tendência - é uma arte de sobrevivência. - Como é que se pode criar resiliência?
Não evitando tudo o que dói. Aprendendo a ver os erros não como fracassos, mas como correcções. Olhando honestamente para si próprio - incluindo as suas fraquezas. E procurando pessoas que não só confirmem, mas também questionem. A resiliência começa com a honestidade - não com a auto-otimização. - O que significa realmente "a liberdade começa com a honestidade"?
Significa que a verdadeira liberdade não vem do exterior, mas começa no interior. Aqueles que mentem a si próprios - sobre as suas necessidades, os seus medos, os seus desejos - continuarão sempre a não ser livres. Só quando digo a verdade a mim próprio é que posso tomar decisões livres. E isso é mais importante hoje do que nunca. - Irá o sistema entrar em colapso - ou manter-se-á assim?
Ambas são possíveis. O mais provável é uma erosão lenta, uma tensão cada vez maior entre a aparência e a realidade. Muitas vezes, os sistemas não se quebram visivelmente - tornam-se porosos. O artigo não é um cenário apocalítico. Mas deixa claro: aqueles que confiam cegamente hoje acordarão duros amanhã. - Não é um pouco sombrio demais?
Talvez. Mas uma visão clara é melhor do que óculos cor-de-rosa. O texto não quer assustá-lo, quer deixá-lo sóbrio. Porque a lucidez vem da sobriedade. E da lucidez nasce a força para desbravar novos caminhos - sem ilusões, mas com atitude. - O que significa realmente "manter-se acordado" na vida quotidiana?
Significa não acreditar em todas as novidades, ler os meios de comunicação social de forma crítica, ter consciência da linguagem, não se deixar levar pelos mais barulhentos, questionar as estruturas - e, acima de tudo: fazer regularmente uma pausa e verificar se a sua própria vida ainda se enquadra nos seus próprios valores. - O que é que fica quando tudo o resto cai?
Tu próprio. O seu carácter. A tua experiência. O seu instinto para o que é correto - mesmo que ninguém o aplauda. O sistema vai mudar. Talvez lentamente, talvez mais depressa do que pensamos. Mas ninguém pode tirar-nos o que construímos dentro de nós. E é esse, em última análise, o cerne deste artigo: Começa a construir. Dentro de si. Para si próprio. Para os que vierem depois de si.