O euro digital está a chegar - o que significa, o que não deve fazer e o que pode fazer

O dinheiro público é mais do que um simples meio de troca - é um símbolo da soberania do Estado, um garante da ordem económica e um meio de todos os cidadãos participarem livremente na vida económica. Durante séculos, o numerário foi a expressão desta liberdade: anónimo, incondicionalmente utilizável, válido em todo o lado. Com a substituição gradual do numerário por métodos de pagamento digitais, coloca-se de novo uma questão fundamental: quem controlará o dinheiro do futuro - e em que condições?

É precisamente aqui que entra o debate sobre o "euro digital". Há já alguns anos que o Banco Central Europeu (BCE) planeia introduzir um meio de pagamento digital garantido pelo Estado, para além do dinheiro, que possa ser utilizado por todos os cidadãos - independentemente das contas bancárias, cartões de crédito ou empresas de tecnologia. À partida, a intenção parece inofensiva. Mas um olhar mais atento revela que se trata de muito mais do que apenas um novo método de pagamento. O que está em causa é o controlo, a confiança e a relação entre os cidadãos e o Estado num mundo cada vez mais digitalizado.

Neste artigo, traçamos o desenvolvimento do euro digital desde os seus primórdios até às etapas planeadas para a sua introdução, classificamo-lo historicamente e fazemos uma análise crítica do seu potencial impacto na sociedade e na economia.


Questões sociais actuais

Do dinheiro à era dos bits e bytes - Como é que o euro acabou aqui

A história do euro é relativamente recente, mas está intimamente ligada à ideia de uma Europa unida. O euro foi introduzido pela primeira vez em 1999 como moeda escritural, ou seja, para transferências e contas electrónicas. Só três anos mais tarde, em 1 de janeiro de 2002, é que passou a ser utilizado nas carteiras dos cidadãos sob a forma de moedas e notas.

A transição do marco alemão, do franco ou da lira para o euro foi, em grande medida, ordenada, mas também foi encarada com ceticismo desde o início. Sobretudo em países como a Alemanha, onde a confiança em moedas estáveis está historicamente muito enraizada, o novo euro foi encarado de forma crítica. No entanto, com o tempo, estabeleceu-se como um meio de pagamento fiável na zona euro - e tornou-se a segunda zona monetária mais importante do mundo.

Nas duas décadas que se seguiram, as condições de enquadramento mudaram radicalmente. Os métodos de pagamento digitais, como o PayPal, o Apple Pay e o Google Pay, estão a substituir cada vez mais o numerário. Ao mesmo tempo, a Bitcoin e outras criptomoedas surgiram como alternativas privadas que estão a abalar os alicerces do sistema monetário. O BCE e começou a estudar a introdução do seu próprio euro digital.

Porquê uma moeda digital de um banco central? Três motivos do BCE

A introdução de um euros digitais O facto de o banco central utilizar a tecnologia não é um capricho de burocratas apaixonados por tecnologia. Pelo contrário, é o resultado de uma necessidade estratégica baseada em três motivos principais:

  1. Independência em relação aos prestadores de serviços de pagamento estrangeirosA maioria das transacções sem dinheiro na Europa é processada através de sistemas baseados nos EUA - seja Visa, Mastercard ou PayPal. Este domínio significa também dependência política. Um euro digital poderia criar uma alternativa europeia neste domínio.
  2. Resposta às criptomoedas e às moedas estáveisAs moedas digitais, como a Bitcoin, mas também as stablecoins empresariais (por exemplo, o projeto Libra do Facebook, que falhou), reforçaram a confiança de muitas pessoas em formas de pagamento alternativas - mas, ao mesmo tempo, também levantaram questões sobre a estabilidade e o controlo estatal. O BCE considera que a sua tarefa consiste em criar uma alternativa digital segura e garantida pelo Estado.
  3. Garantir o acesso de todos - também a nível digitalO dinheiro está a tornar-se menos importante. Se desaparecer, só restará o dinheiro controlado pelo sector privado. Um euro digital deve assegurar que o "dinheiro público" continue disponível no espaço digital - como complemento do numerário e não como substituto.

Estes motivos são evidentes: O euro digital não é uma inovação puramente técnica, mas uma decisão política. A questão central é: será que num futuro digital ainda será possível pagar com dinheiro público - ou ficaremos completamente à mercê de fornecedores privados?

Quadro político: A via legislativa para o euro digital

O quadro jurídico para o euro digital não está a ser criado na câmara silenciosa do BCE, mas está a ser ativamente moldado pelas instituições da UE. A Comissão Europeia já apresentou uma proposta legislativa inicial em 2023, que se destina a permitir e apoiar juridicamente a introdução do euro digital.

Sublinha explicitamente que o euro digital não se destina a substituir as notas e moedas, mas apenas a complementá-las. Prevê-se que tenha curso legal e que deva ser aceite em toda a zona euro - tal como acontece atualmente com a nota de euro. Tal tornaria o euro digital não só tecnicamente, mas também juridicamente equivalente ao numerário.

Estes desenvolvimentos não estão a ser feitos de forma tranquila. No Parlamento Europeu, nos parlamentos nacionais e também em público, há por vezes debates acalorados sobre o sentido e os riscos da moeda digital do banco central. Enquanto o BCE insiste na proteção de dados e na voluntariedade, os críticos manifestam preocupação com a vigilância estatal, a falta de transparência técnica e a abolição progressiva do numerário.
O euro digital é ainda um projeto em desenvolvimento. Mas uma coisa já é certa: se for introduzido, irá alterar permanentemente a relação entre os cidadãos, o Estado e os bancos - possivelmente de forma fundamental.

Breve crónica: Marcos históricos do euro
1999 Introdução do euro como moeda escritural em 11 países
2002 O euro fiduciário substitui as moedas nacionais
2021 Início da fase de investigação do euro digital
2023 Início da fase preparatória - o projeto euro digital ganha forma

O projeto "Euro Digital" na linha do tempo - o que já foi decidido

O desenvolvimento do euro digital não é uma solução rápida, mas segue um roteiro estruturado que se estende atualmente por vários anos. Qualquer pessoa que esteja familiarizada com o calendário pode avaliar melhor até que ponto o projeto já progrediu - e quais os passos que ainda têm de ser dados.

O caminho para uma eventual introdução está dividido em várias fases claramente definidas: a fase de investigação de 2021 a 2023, a atual fase preparatória e o próximo ponto de decisão em outubro de 2025, que poderá decidir sobre a aplicação efectiva.

1ª fase de investigação (julho de 2021 a outubro de 2023): Recolher ideias, verificar os riscos, conceber a arquitetura

A fase de inquérito, que começou oficialmente em julho de 2021, serviu inicialmente para estabelecer a linha de base. O objetivo era clarificar questões fundamentais:

  • Como é que um euro digital pode ser implementado tecnicamente?
  • Quem será responsável por que partes da infraestrutura?
  • Quais seriam os riscos para o sector bancário, as operações de pagamento e a estabilidade financeira?

Esta fase não foi apenas um exercício teórico - pelo contrário. Em estreita cooperação com os bancos europeus, os prestadores de serviços de pagamento, as organizações de proteção dos consumidores, os bancos centrais e as empresas de tecnologia, foram criados cenários concretos. Foram desenvolvidos os primeiros projectos de arquitetura técnica e as variantes de possíveis modelos de negócio.

Um dos principais objectivos era encontrar um equilíbrio funcional: entre inovação e estabilidade, entre eficiência tecnológica e privacidade, entre controlo estatal e liberdade individual. Já nessa altura, era claro que o euro digital não se destinava a ser uma experiência de cadeia de blocos, mas sim um meio de pagamento controlado pelo Estado e amplamente acessível que coexistiria com o numerário.

No final de outubro de 2023, o BCE declarou que esta fase estava concluída - com a constatação de que um euro digital é tecnicamente viável, mas o seu sucesso depende crucialmente da aceitação social e política.

2ª fase de preparação (desde novembro de 2023): Determinar a conceção, integrar o fornecedor, criar um ambiente de teste

A segunda fase começou oficialmente em 1 de novembro de 2023: a fase preparatória. Está previsto que decorra durante dois anos, até outubro de 2025. Esta fase centrar-se-á agora no desenvolvimento concreto da implementação - por outras palavras, na forma como o euro digital poderá realmente parecer, funcionar e ser integrado na infraestrutura de pagamentos existente. São três os principais objectivos:

1. finalizar o projeto técnico

  • Como devem ser processadas exatamente as transacções - em linha e fora de linha?
  • Que armazenamento de dados é necessário e como é garantida a proteção de dados?
  • Como pode o euro digital funcionar também sem ligação à Internet (pagamentos offline)?

2. clarificar o papel dos intermediários

O BCE não pretende emitir o euro digital diretamente para os clientes finais, mas sim através dos bancos e prestadores de serviços de pagamento existentes. Estes deverão funcionar como uma "rede de distribuição", à semelhança do que acontece atualmente com o numerário. O papel exato destes intermediários, a sua remuneração e as suas responsabilidades estão agora a ser definidos em pormenor.

3. concursos e parcerias

O BCE já adjudicou vários projectos-piloto e contratos tecnológicos. Empresas como a Giesecke+Devrient, a Capgemini, a Worldline e a Amazon foram incumbidas de desenvolver protótipos de aplicações móveis, sistemas de pagamento offline e infra-estruturas de retaguarda, entre outros.

Está a ser dada especial atenção à funcionalidade offline: o euro digital - tal como o numerário - também deve funcionar quando não existe uma rede disponível. As soluções técnicas iniciais prevêem que os montantes de dinheiro possam ser armazenados localmente num chip ou smartphone e trocados entre dois dispositivos - sem necessidade de servidores centralizados.

Esta fase preparatória é uma espécie de ensaio geral para a verdadeira introdução - embora sem um verdadeiro euro digital. Serve para criar confiança, clarificar os riscos técnicos e preparar um quadro jurídico funcional.

3. Próxima etapa (outubro de 2025): Decisão política e possível lançamento

O ponto de viragem decisivo de todo o projeto está previsto para outubro de 2025. O BCE decidirá então - com base na experiência adquirida na fase preparatória - se avança para a fase seguinte: a fase de implementação. Esta fase é frequentemente designada por "fase de reforço das capacidades", ou seja, o desenvolvimento efetivo de todos os sistemas operacionais e técnicos necessários para o lançamento no mercado. É aqui que as coisas se tornam sérias:

  • O euro digital poderia ser introduzido numa base piloto, por exemplo, em países ou regiões selecionados.
  • As primeiras transacções reais com um âmbito de aplicação limitado poderiam ser autorizadas.
  • E a infraestrutura necessária seria criada em todos os sectores - desde o acesso à aplicação até aos bancos e terminais offline.

No entanto, para que tal seja possível, é ainda necessária uma base jurídica a nível da UE. A Comissão Europeia já apresentou a sua proposta legislativa, mas esta ainda tem de passar por todo o processo legislativo - incluindo o Parlamento Europeu e o Conselho. A lei não entrará em vigor antes de 2026, na melhor das hipóteses.

Se este processo decorrer sem problemas, prevê-se uma possível introdução entre 2028 e 2029, pelo que se prevê uma implementação lenta e gradual - com muitas etapas intermédias, ajustamentos e rondas de feedback. O BCE está ciente de que só poderá implementar este projeto com êxito se houver confiança por parte do público. Por conseguinte, irá, pelo menos por si próprio, comunicar cada passo de forma transparente e obter regularmente reacções da sociedade.

O euro digital já não é um projeto vago para o futuro, mas encontra-se em plena fase de desenvolvimento estruturado. Muitas decisões de base já foram tomadas, nomeadamente no que diz respeito ao seu papel como meio de pagamento complementar ao numerário, à sua não programação e à funcionalidade offline prevista. No entanto, os obstáculos decisivos ainda estão por vencer: a legitimação jurídica, a aceitação social e a integração inteligente num sistema monetário existente e sensivelmente equilibrado.

Fases do euro digital
2021-2023 Fase de investigação - viabilidade, riscos, arquitetura
2023-2025 Fase de preparação - conceção, seleção de parceiros, testes iniciais
Out. 2025 Decisão sobre a introdução ("Go" ou "Stop")
A partir de 2026 Processo legislativo da UE - base jurídica do euro digital
A partir de 2028/29 Data mais antiga para a emissão efectiva do euro digital

Conceção, tecnologia, limites - o que o euro digital deve ser capaz de fazer (e o que definitivamente não deve)

O euro digital não deve ser apenas um novo meio de pagamento digital, mas sim uma moeda com diretrizes claras. O Banco Central Europeu (BCE) sublinha em quase todas as publicações que se orienta por três princípios básicos na conceção do euro digital: Segurança monetária, soberania tecnológica e confiança social.

Estes princípios reflectem-se em decisões de conceção específicas - e também nos limites deliberadamente estabelecidos. Afinal de contas, o euro digital não deve explicitamente ser capaz de fazer tudo o que é tecnicamente possível.

Não há "moeda programável" pelo BCE

Um dos maiores pontos de discórdia - especialmente em debates de alto nível - é a questão de saber se o euro digital será "programável", ou seja, se só poderá ser utilizado para determinados fins, se poderá ter uma data de validade ou se poderá ser restringido pelo Estado. O BCE tomou uma posição inequívoca sobre este assunto em várias ocasiões:

"O BCE não emitirá moeda programável. Os utilizadores poderão utilizar o seu euro digital tão livremente como o dinheiro."

O que ela quer dizer com isto é que o euro digital não está ligado a quaisquer condições por parte do banco central. Não há despesas afectadas, não há datas de expiração, não há possibilidade de controlo governamental remoto de transacções individuais. Isto torna-o fundamentalmente diferente de conceitos como os que estão a ser testados na China como parte do e-CNY.

Simultaneamente, há uma certa margem de interpretação que permanece em aberto: O que os prestadores de serviços de pagamento privados ou os sistemas de terceiros farão tecnicamente a nível da aplicação no futuro é outra questão. O BCE salienta aqui que "apenas fornece a infraestrutura de base" - tudo o resto é da responsabilidade dos intermediários. É exatamente aqui que, mais tarde, começam as zonas cinzentas.

Privacidade: modelo de dois níveis para o online e o offline

A proteção de dados é outro ponto fundamental. O BCE salienta que o euro digital pode oferecer maior privacidade - especialmente em comparação com os actuais pagamentos com cartão. Está previsto um modelo em duas fases:

  1. Pagamentos offlineEstes devem funcionar de forma semelhante ao numerário. O dinheiro é armazenado localmente num dispositivo (por exemplo, smartphone, cartão com chip), os pagamentos não são registados centralmente. Apenas o pagador e o destinatário vêem a transação. Uma afirmação forte - se for implementada corretamente de um ponto de vista técnico.
  2. Pagamentos em linhaNeste caso, aplicam-se os procedimentos normalizados de prevenção do branqueamento de capitais (KYC/AML). O próprio BCE não deve ter uma visão direta dos dados relativos aos pagamentos, nem deve recolher quaisquer dados pessoais de utilização. Os dados relativos às transacções devem ser armazenados sob pseudónimo - de forma comparável aos sistemas SEPA.

Mas também aqui subsiste um ponto de interrogação: Isto porque a implementação é efectuada por bancos e prestadores de serviços de pagamento. O seu interesse nos dados de utilização é bem conhecido. E o Estado também poderia exigir uma visão mais profunda através de futuras alterações à lei - as barreiras legais de hoje não são garantia de amanhã.


Inquérito atual sobre a introdução do euro digital

Qual é a sua opinião sobre a planeada introdução do euro digital?

Infraestrutura técnica: capacidade offline e modelo intermediário

Um ponto de venda único do euro digital é a sua facilidade de utilização fora de linha - uma área em que muitos outros sistemas de pagamento digital falham. O objetivo é permitir que os utilizadores paguem mesmo sem ligação à Internet - por exemplo, em zonas rurais, no estrangeiro ou em caso de falhas técnicas.

Tecnicamente, isto é feito armazenando o crédito localmente num dispositivo (cartão com chip, smartphone). Os dispositivos mantêm um registo das transacções, que são posteriormente sincronizadas com a infraestrutura da próxima vez que estiverem ligados.
O BCE já adjudicou contratos a parceiros industriais para a implementação destes sistemas. A Giesecke+Devrient, uma empresa alemã que ainda é responsável pela produção de notas, está particularmente ativa - uma indicação de que a fiabilidade é prioritária em relação à propaganda.

Todas as transacções - quer offline quer online - não devem ser efectuadas diretamente através do BCE, mas sim através de intermediários (bancos, prestadores de serviços de pagamento). Isto significa que o banco central cria a base, mas o mercado assume a aplicação.

Limites e limites superiores de retenção

Para evitar que os clientes bancários transfiram todos os seus depósitos para euros digitais - o que poderia provocar problemas de liquidez nos bancos comerciais - o BCE está a planear um limite de detenção por pessoa. Este limite poderá situar-se (a partir de hoje) entre 3.000 e 5.000 euros - o montante exato ainda não foi definido. Acima deste limite, entrará em vigor um "sistema de cascata" automático, que transferirá os montantes excedentários para uma conta bancária normal. Embora esta medida seja compreensível por razões de estabilidade, levanta questões fundamentais:

  • Será que o euro digital é realmente "dinheiro como o dinheiro" se eu só o puder deter até um certo limite?
  • E quem pode garantir que este limite não será gradualmente reduzido ou sujeito a condições?


O "euro digital" está a chegar: Mas de que nos servirá? - Handelsblatt Hoje

Práticas e pontos de discórdia - o que isto significa para os cidadãos, os retalhistas e os bancos

O euro digital é mais do que uma mera inovação técnica - está a mudar fundamentalmente a forma como os cidadãos, os retalhistas e as instituições financeiras interagem. Embora muitas questões ainda não tenham resposta, já estão a surgir efeitos práticos e potenciais linhas de conflito.

Para os cidadãos: mais escolha - ou mais dependência?

Na perspetiva de muitos cidadãos, o euro digital é, à partida, uma adição conveniente. Permite um pagamento fácil sem taxas de cartão, funciona também fora de linha e - de acordo com o BCE - deverá oferecer um elevado nível de proteção de dados. Além disso, não é necessária uma conta bancária tradicional, o que pode reforçar a inclusão financeira, por exemplo, de crianças, idosos ou pessoas sem acesso a serviços bancários.

Simultaneamente, porém, existe o risco de o numerário continuar a ser deslocado - de forma gradual ou ostensiva. Se os retalhistas, as autoridades ou os prestadores de serviços passarem a aceitar apenas pagamentos digitais (e isso já não for impedido por lei), o euro digital poderá passar de um serviço adicional para um sistema obrigatório. A questão mantém-se: quem controla a carteira digital?

  • Para crédito offlineO utilizador tem realmente o controlo total?
  • Para pagamentos em linhaA privacidade é preservada de forma permanente?

Os cidadãos terão de decidir qual o sistema em que confiam a longo prazo - e até que ponto estão dispostos a abdicar do controlo em troca de conveniência.

Para os retalhistas: esperança na descida das taxas

Os retalhistas encaram o euro digital sobretudo como uma questão de custos. Atualmente, os pagamentos com cartão implicam, em alguns casos, taxas elevadas, especialmente para pequenos montantes. Um sistema isento de comissões, subsidiado pelo Estado, poderia ser um verdadeiro alívio neste domínio - e aumentar a concorrência.

Ao mesmo tempo, também há trabalho envolvido: é necessário adquirir novas infra-estruturas, formar os funcionários e adaptar os processos. E a integração nos sistemas POS existentes depende do grau de abertura das normas - ou se as soluções proprietárias voltam a dominar.

Para os bancos: medo de perder depósitos - e a questão do modelo de negócio

Até à data, as críticas mais fortes têm vindo do mundo bancário. Os bancos comerciais receiam que, no futuro, os cidadãos voltem a "estacionar" uma parte dos seus depósitos em euros digitais, o que poderá provocar estrangulamentos de liquidez. Embora os limites máximos de detenção se destinem a atenuar esta situação, resta saber se serão suficientes. Além disso, a questão que se coloca aos bancos é a seguinte: o que é que nos resta realmente? Se as transacções de pagamento, a gestão do dinheiro e a confiança estiverem de novo nas mãos do banco central, será que ainda precisamos das contas bancárias tradicionais?

Além disso, os bancos devem ajudar a construir as infra-estruturas para o euro digital, mas sem qualquer garantia de rendimento. O BCE vê-os como intermediários, mas sem um modelo de remuneração vinculativo. Muitas instituições consideram que se trata de um papel sem retorno.

O euro digital está tecnicamente bem concebido e equipado com muitos mecanismos de proteção - pelo menos no papel. No entanto, como tantas vezes acontece, a verdade está na vida quotidiana: na implementação, na legislação, na aceitação pelos cidadãos - e nos pormenores que são difíceis de reverter depois de introduzidos. O fator decisivo será saber se o anunciado carácter voluntário e a privacidade podem resistir aos interesses políticos e económicos a longo prazo.

Princípios de conceção do euro digital (declarações do BCE)
Programabilidade Não previsto pelo BCE (sem afetação, sem data de expiração)
Proteção de dados Fora de linha: Semelhante a dinheiro. Online: Pseudónimo, sem armazenamento de dados pessoais no BCE.
Função offline Tecnicamente planeado com cartão com chip ou smartphone - pagamentos peer-to-peer sem Internet
Limite de retenção Prevê-se que seja de 3 000-5 000 euros para limitar as saídas de fundos dos bancos

Críticas, perigos e um olhar sobre a China

No debate sobre o euro digital, há uma série de objecções fundamentais que não devem ser simplesmente ignoradas, mas sim levadas a sério e respondidas com clareza.

1. risco de restrição da liberdade através do controlo digital

Um dos principais argumentos apresentados pelos críticos é que, a partir do momento em que a moeda é digital e gerida de forma centralizada, os Estados ou os bancos centrais ganham um instrumento que anteriormente não estava disponível com o numerário - nomeadamente a rastreabilidade total, as restrições à utilização ou mesmo o acesso remoto aos fundos. De facto alertar os peritosque um euro digital incorretamente concebido poderia criar "pessoas transparentes". Exemplos do temido controlo:

  • Data de expiração do crédito digital ou da afetação ("Este dinheiro só pode ser utilizado para ...") - tecnicamente possível, se desejado. Crítica: Isto contradiz o entendimento da liberdade da moeda como um meio de troca geralmente utilizável.
  • Acesso das autoridadesQuando os fundos digitais estão no sistema, a tentação de os congelar ou redirecionar rapidamente em caso de crise é maior. Os críticos vêem isto como um enfraquecimento da autodeterminação financeira.
  • Redução do anonimatoMesmo que o Banco Central Europeu (BCE) sublinhe que não pretende ter acesso direto aos dados dos utilizadores, a questão fundamental mantém-se: a "privacidade" no espaço digital é idêntica à privacidade no dinheiro? Alguns estudos dizem que não.

2. potencial de programação e de controlo social

Outro risco frequentemente mencionado é o facto de as moedas digitais poderem ser equipadas com caraterísticas programáveis - palavras-chave: contratos inteligentes, prazos de expiração automáticos, afetação de fundos. Os críticos alertamSe isto for implementado, os governos ou os bancos centrais poderão discriminar indivíduos ou grupos com "más" pontuações ou apenas libertar dinheiro para os "bons" comportamentos.

Embora o BCE tenha assegurado repetidamente até à data que não tinha qualquer objetivo específico nem fixado uma data de expiração, tal continua a ser o caso: A arquitetura pode, teoricamente, ser alterada; uma vez introduzida, o acesso subsequente é difícil de reverter.

3. estabilidade financeira, bancos e riscos sistémicos

Um terceiro ponto de crítica prende-se menos com os direitos civis e mais com o sistema: se todos os cidadãos puderem deter diretamente dinheiro digital do banco central, isso levará a uma possível migração dos depósitos nos bancos comerciais para os saldos do banco central - especialmente em tempos de crise. Esta situação poderia pôr em causa o modelo de negócio dos bancos exercer uma pressão considerável sobrereduzir o volume de crédito e, consequentemente, sobrecarregar a economia.

Além disso, a introdução de uma infraestrutura digital acarreta novos riscos de ataques, falhas e riscos cibernéticos - se o sistema não for resistente, os cidadãos podem ficar seriamente privados da utilização do dinheiro.

4. problema de aceitação e questão de benefícios

Um ponto que é frequentemente esquecido: muitas pessoas perguntam-se simplesmenteque vantagens teria um euro digital na vida quotidiana. Atualmente, dinheiro, cartão e smartphone funcionam bem em muitos países, razão pela qual as vantagens não são automaticamente convincentes. Se não houver valor acrescentado, o projeto fica vulnerável à rejeição do público.

Grupo Efeitos e oportunidades Preocupações e riscos
Cidadãos Acesso fácil a dinheiro apoiado pelo governo, elevado nível de privacidade offline, sem necessidade de banco Deslocação progressiva de dinheiro, controlo potencial através de alterações legislativas subsequentes
Retalhista Menos taxas, operações de pagamento mais rápidas, melhores infra-estruturas Custos de conversão, nova tecnologia necessária, esforço de integração
Bancos Participação como intermediário concebível, novos domínios de atividade Perda de depósitos, enfraquecimento do modelo de negócio, falta de perspectivas de ganhos

Comparação com a China: e-CNY, narrativa do crédito social e lições para a Europa

Estamos agora a olhar para leste - para a moeda digital do banco central da China e para os sistemas associados - não para equiparar a Europa, mas para compreender melhor os riscos potenciais.

1. china: arquitetura e prática

Com a sua renminbi digital (e-CNY) é um dos projectos-piloto de moeda digital de banco central mais avançados do mundo. Destacam-se caraterísticas como a capacidade de programação, a capacidade offline e a integração com aplicações quotidianas já altamente digitalizadas. Ao mesmo tempo, a China dispõe de um sistema de crédito social que avalia o comportamento dos cidadãos e das empresas e associa sanções ou privilégios a esse comportamento - quer se trate de viagens, de compras em linha ou do acesso ao financiamento.

2 Transferibilidade para a Europa: diferenças e sinais de alerta

Nos seus documentos de projeto, a Europa sublinha claramente que o euro digital não deve ser programável, deve complementar a utilização do numerário, não substituí-lo, e deve garantir a privacidade. No entanto, a experiência chinesa revela perfis de risco típicos:

  • Poder tecnológicoQuem controla a infraestrutura de pagamento controla os dados, o que aumenta o poder político e económico.
  • Ligação com os sistemas sociaisNa China, o sistema de crédito social está parcialmente ligado a soluções de pagamento ou de identidade digital. Na Europa, o projeto de identidade digital está a crescer paralelamente, o que, segundo alguns, abre caminho a um controlo alargado das operações de pagamento.
  • Desenvolvimento rápido vs. controlo democráticoEnquanto a China opera a alta velocidade, a Europa opera num processo lento e democraticamente controlado. Este facto oferece oportunidades, mas também riscos: uma vez estabelecida a tecnologia, será mais difícil alterá-la mais tarde.

3 Lições para a Europa - e perguntas sem resposta

A experiência chinesa mostra que um espaço de pagamento digital pode ser rapidamente integrado num sistema que vai muito além das simples transacções de pagamento. Para a Europa, isto significa

É crucial excluir claramente todas as futuras funções do euro digital no processo legislativo ou permiti-las apenas com procedimentos controlados - por exemplo, programação apenas do lado do utilizador e não do lado do banco central.

A proteção dos pagamentos offline, a minimização dos dados e a liberdade de escolha continuam a ser fundamentais - caso contrário, o sistema poderia rapidamente assumir a imagem de um "instrumento de controlo dos pagamentos". A transparência e a legitimação democrática devem crescer com ele - enquanto o projeto estiver ainda na sua infância, é possível exercer influência.

A introdução do euro digital traz, sem dúvida, oportunidades - melhores infra-estruturas de pagamento, acesso financeiro, soberania tecnológica. Mas as vozes críticas apontam claramente para esse facto: A liberdade, a privacidade, a estabilidade do sistema bancário e o controlo democrático não estão garantidos. Um olhar sobre a China serve de luz de aviso e mostra a rapidez com que os meios de pagamento digitais podem tornar-se parte de um sistema de controlo mais vasto - se não nos mantivermos vigilantes.

Ponto de crítica Resposta / contra-argumento do BCE
Dinheiro com prazo de validade Não planeado - os euros digitais devem estar disponíveis por um período de tempo ilimitado
Vigilância total Pagamentos offline completamente anónimos; online pseudonimizados, sem acesso aos dados pelo BCE
Dinheiro reservado ("só para...") Não é possível através do banco central - utilização gratuita garantida
Sistema de crédito social como na China Não há ligação, não está prevista qualquer ligação de dados com o comportamento ou a identificação eletrónica - segundo o BCE

O que resta do euro digital?

Do que sabemos até agora, o euro digital é um projeto com duas faces. Por um lado, existe a ambição genuína de criar um meio de pagamento seguro para o Estado, baseado em numerário, no espaço digital. A ideia é que, num mundo em que o numerário está a perder importância e os pagamentos digitais são cada vez mais dominados por empresas internacionais, deve continuar a existir um instrumento que pertença ao público e não ao mercado. Nesta perspetiva, o euro digital é uma promessa moderna de liberdade.

Mas, por outro lado - e isto é igualmente real - o mesmo mecanismo cria um instrumento que pode ser mal utilizado. Mesmo que o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia sublinhem repetidamente que o euro digital não deve ser programável, nem controlável, nem obrigatório: A base técnica torná-lo-ia possível. A questão crucial não é, portanto, apenas o que está planeado - mas o que poderá vir a ser possível em algum momento.

É precisamente porque sabemos de outros países - especialmente da China - a rapidez com que os sistemas de pagamento digital podem ser ligados a instrumentos de controlo sociais, políticos ou relacionados com a identidade, que é necessária vigilância. Mesmo que as boas intenções prevaleçam: A história mostra que os quadros políticos podem mudar rapidamente - e com eles a forma como lidamos com tecnologias que já estão incorporadas na vida quotidiana.

O que é que isto significa para os cidadãos e para as empresas?

Para os cidadãos, o euro digital significa, inicialmente, uma escolha adicional - mas, a longo prazo, significa também uma obrigação de prestar atenção. Quem ainda pensa que isto não o afecta, porque pode continuar a pagar em numerário, não percebe que a aceitação do numerário não está a ser corroída pela lei, mas pelo comportamento do mercado. Se os retalhistas e as plataformas "só oferecem digital" no futuro, o sistema tornar-se-á uma realidade, quer se goste ou não.

Para as empresas, o euro digital oferece oportunidades - por exemplo, sob a forma de custos de transação mais favoráveis, novas infra-estruturas e independência em relação aos condicionalismos dos cartões. Mas também neste caso, quem confiar cegamente nos sistemas digitais do Estado, está a entregar uma parte da sua responsabilidade económica. O euro digital não será apenas um "método de pagamento cómodo", mas também um instrumento politicamente regulado. É preciso saber lidar com ele - não só tecnicamente, mas também em termos do seu alcance.

Se queres ser livre, tens de te manter alerta

O euro digital não é uma inovação puramente financeira, mas sim um projeto social. Vai mudar a nossa relação com o dinheiro, a liberdade, o controlo e a confiança - independentemente de o utilizarmos ou não. É precisamente por isso que a questão não deve ser delegada - nem a peritos, nem a políticos, nem a tecnocratas. É demasiado importante.

Cabe a cada indivíduo manter os olhos abertos, questionar os desenvolvimentos e reconhecer o valor da verdadeira liberdade - mesmo em pequena escala. Porque quando nos apercebemos do que perdemos, muitas vezes é demasiado tarde para o recuperar.


Tópicos actuais sobre gestão de crises

Perguntas frequentes sobre o euro digital

  1. O que é exatamente o euro digital - e em que é que difere do euro que tem hoje na sua conta bancária?
    O euro digital seria uma nova forma de moeda do banco central - semelhante ao numerário, mas em formato digital. Ao contrário do dinheiro de uma conta bancária, que é, em última análise, um crédito sobre um banco comercial, o euro digital seria um crédito direto sobre o Banco Central Europeu (BCE). Isto significa: absolutamente seguro, sem risco de insolvência, garantido pelo Estado. O objetivo é manter o euro disponível como moeda pública num mundo digital - para além do numerário.
  2. O euro digital substituirá o numerário?
    Oficialmente: Não. O BCE e a Comissão Europeia sublinham que o euro digital se destina a complementar o numerário e não a substituí-lo. Destina-se a ser utilizado nos casos em que já não é possível pagar com numerário - por exemplo, no comércio eletrónico. No entanto, existem receios de que o euro digital possa substituir o numerário a longo prazo se os retalhistas, as autoridades ou as empresas apenas aceitarem meios de pagamento digitais. Atualmente, a obrigação legal de aceitar numerário não está firmemente estabelecida em toda a UE.
  3. Quais são as principais razões pelas quais o BCE pretende introduzir um euro digital?
    Há várias razões:
    - Soberania tecnológica face aos prestadores de serviços de pagamento sedeados nos EUA (por exemplo, Visa, Mastercard, PayPal).
    - Reação às criptomoedas e às moedas estáveis que criaram confiança em formas de pagamento alternativas.
    - Garantir que o dinheiro público, apoiado pelo Estado, continue disponível no espaço digital.
    - Promover a inclusão financeira - para pessoas sem conta bancária, por exemplo.
  4. O euro digital já foi introduzido?
    Não. O euro digital encontra-se atualmente (no final de 2025) na fase preparatória, que decorre desde novembro de 2023. A decisão final sobre a introdução está prevista para outubro de 2025, na melhor das hipóteses. A emissão efectiva para os cidadãos não poderá ocorrer antes de 2028/2029 - desde que seja aprovada uma lei da UE correspondente antes dessa data.
  5. Como é que o euro digital funciona tecnicamente - mesmo sem Internet?
    O euro digital pode ser utilizado de duas formas:
    - Em linha: através de uma aplicação ou interface com uma ligação à Internet.
    - Offline: através de crédito armazenado localmente num chip ou smartphone que pode ser transferido entre dois dispositivos. Esta função está atualmente a ser desenvolvida por empresas parceiras (por exemplo, Giesecke+Devrient). O objetivo é que o euro digital funcione sem rede - tal como o dinheiro.
  6. O euro digital será "programável" - pode ser associado a condições?
    De acordo com o BCE: Não. O euro digital não deve ser programável - pelo menos não pelo banco central. Os utilizadores devem poder utilizar a moeda tão livremente como o numerário. No entanto, existem possibilidades técnicas para que os sistemas de terceiros (por exemplo, aplicações comerciais, plataformas) possam incorporar determinadas regras - como descontos ou utilização limitada. No entanto, os críticos vêem esta possibilidade como uma porta de entrada para restrições posteriores.
  7. E quanto à privacidade no euro digital?
    O BCE está a planear um sistema em duas fases:
    - Os pagamentos fora de linha devem ser "semelhantes a dinheiro", ou seja, sem armazenamento centralizado dos dados da transação.
    - Por lei, os pagamentos online requerem verificações KYC/AML, mas são processados sob pseudónimo. O BCE sublinha que não pretende armazenar ou transmitir quaisquer dados pessoais. No entanto, há críticas: mesmo os dados pseudonimizados podem, a longo prazo, ser associados a identidades.
  8. Que quantidade de euros digitais se pode possuir? Existe um limite?
    Sim, para não desestabilizar o sistema bancário, vão ser introduzidos os chamados limites de detenção - provavelmente entre 3.000 e 5.000 euros por pessoa. Os montantes acima desse limite seriam automaticamente transferidos para a conta bancária normal ("modelo em cascata"). O objetivo é evitar que demasiados depósitos bancários sejam "transferidos" para o banco central.
  9. O que significa o euro digital para os bancos comerciais?
    Os bancos comerciais receiam uma transferência dos depósitos para o banco central. Em tempos de crise, os clientes poderiam fugir para o seguro euro digital - e privar o banco de liquidez. Coloca-se também a questão de saber qual o papel que os bancos ainda desempenham se as operações de pagamento forem canalizadas diretamente através dos sistemas estatais. O BCE quer envolver os bancos como intermediários, mas muitas instituições consideram que o seu modelo de negócio fica comprometido.
  10. O que é que as empresas e os retalhistas ganham com o euro digital?
    Para os comerciantes, o euro digital poderá permitir um processamento de pagamentos mais económico, especialmente em comparação com os actuais sistemas de cartões, cujas taxas são por vezes elevadas. O pagamento rápido e seguro - tanto em linha como fora de linha - é também uma vantagem. No entanto, os retalhistas terão de introduzir novas tecnologias, adaptar os sistemas de checkout e ajustar-se a novos processos. A integração pode significar muito trabalho - e criar novas dependências.
  11. Qual é a diferença entre o euro digital e a Bitcoin ou as stablecoins?
    A Bitcoin é descentralizada, volátil e assenta numa rede aberta sem uma autoridade central. O euro digital, por outro lado, seria controlado centralmente, estável em termos de preços (indexado 1:1 ao euro) e apoiado pelo governo. As moedas estáveis, como a USDC ou a Tether, estão frequentemente indexadas ao dólar, mas estão sujeitas ao risco de insolvência dos fornecedores. O euro digital destina-se a oferecer uma alternativa segura e estatal - não para especulação, mas para utilização quotidiana.
  12. Existem paralelos com o e-CNY chinês e o sistema de crédito social?
    Sim e não. O yuan digital da China (e-CNY) é programável em muitos aspectos e está tecnicamente ligado a plataformas estatais. O sistema de crédito social chinês também está interligado digitalmente com os métodos de pagamento, os perfis de viagem, a solvabilidade, etc. Na Europa, sublinha-se que o euro digital não deve ser programável, interligável ou monitorizável - no entanto, os críticos vêem semelhanças técnicas e alertam para os subsequentes "reajustamentos" políticos.
  13. Será obrigatória a utilização do euro digital?
    Atualmente, não está prevista qualquer obrigação. A utilização deve ser voluntária e o euro digital deve ser um complemento do numerário e não um seu substituto. No entanto, se os retalhistas, as plataformas em linha ou as autoridades só aceitarem pagamentos digitais num determinado momento, isso poderá, de facto, resultar numa obrigação - não por lei, mas na prática.
  14. O que dizem os críticos sobre o euro digital?
    Os críticos vêem um risco para a liberdade do indivíduo: através de opções de controlo técnico, de potenciais restrições, da falta de anonimato e da substituição progressiva do numerário. A introdução de uma identidade digital (eID), que no futuro poderá ser associada a dados de pagamento, também é vista como um risco. Alguns receiam uma transição silenciosa para um sistema de controlo centralizado - mesmo que tal seja atualmente negado.
  15. O que é que os cidadãos e os empresários podem fazer para se manterem informados?
    É importante não perder de vista a questão. Os desenvolvimentos são graduais - mas assim que os sistemas são estabelecidos, a margem de manobra é significativamente menor.
    os cidadãos podem:
    - informe-se ativamente,
    - pareceres no processo legislativo,
    - selecionar ou rejeitar conscientemente os meios de pagamento digitais,
    - e continuar a utilizar dinheiro para garantir a sua relevância.
    as empresas devem:
    - acompanhar a evolução técnica,
    - prestar atenção às normas abertas,
    - Não tornar a sua própria infraestrutura dependente de terceiros demasiado cedo.
  16. O euro digital vai chegar - e, se chegar, quando?
    Na situação atual, é muito provável que o euro digital venha a existir - de uma forma ou de outra. Os preparativos políticos e institucionais estão bastante avançados. Se a legislação comunitária planeada for aprovada em 2026, o BCE poderá começar a emiti-lo a partir de 2028/2029. A forma como será organizado em termos concretos - e se será voluntário, aberto e justo - depende também da vigilância que o público tiver atualmente.

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